Pesquisa americana investigou os cultivos que podem reduzir a salinidade do solo
Nos Estados Unidos, pesquisas demonstram que gramíneas podem salvar o solo do excesso de salinidade. No Centro de Extensão em Pesquisa Carrington, da Universidade Estadual de Dakota do Norte, o especialista em pesquisas Ezra Aberle avalia o desempenho de gramíneas perenes, legumes e cultivos de cobertura em solos de diversas salinidades.
Há seis anos em desenvolvimento, as pesquisas incluíram o estudo de 35 espécies de cultivos de cobertura, 12 variedades de alfafa, três espécies de outros legumes e 11 gramíneas perenes. As plantações foram avaliadas em áreas de cultivo com sistema de plantio direto e também em áreas com manejo convencional. Algumas dessas coberturas foram cultivadas em áreas com salinidade do solo estabilizada pelo plantio direto. “No entanto, com as gramíneas perenes consegui reduzir a salinidade do solo. Isso sugere que seria possível atingir uma remediação ao longo do tempo”, diz Aberle. Nível de salinidade O teste para condutância elétrica (EC) indica o nível de salinidade – ou teor de sal – no solo. “Solo com classificação de EC de 4 ou mais é considerado salino, embora possa não exibir a brancura característica tipicamente associada à salinidade”, afirma Aberle. “Aquelas áreas brancas nos campos podem ter leituras de EC de 6 a 30”. Embora o solo salino com EC 4 não tenha “manchas brancas” em evidência, a salinidade provavelmente resultará em menor produtividade da lavoura. “O sal no solo funciona como uma seca”, diz o pesquisador. “Ele prende água tão firmemente que as plantas não conseguem tirá-la dele. A água está ali, mas elas não podem usar, então o rendimento diminui.” Gestão de água Quando água não é usada pelas plantas, a salinidade do solo piora ainda mais porque a umidade evapora da superfície, deixando o sal para trás. “O excesso de salinidade no solo é uma questão de gestão da água”, diz Aberle. De acordo com o pesquisador, os solos salinos problemáticos provavelmente tinham EC de 3 e 4 quando as primeiras lavouras foram implantadas. O problema é que as práticas agrícolas adotadas desde os anos 1990, no entanto, fizeram as ECs em algumas áreas subirem para a faixa de 8 a 20 ou mais. “Áreas salinas estão ficando cada vez maiores e parte do motivo tem a ver com o cultivo de lavouras que não toleram a salinidade. Essas lavouras não usam a água e, assim, ela vai para a superfície e evapora. A chave é usar água antes que ela chegue à superfície”, afirma Aberle. Qual é a solução? Uma estratégia para gerenciar a água do solo é casar os tipos de lavoura com os níveis de EC. Confira as três vertentes sugeridas pela pesquisa americana. 1 – Lavouras comerciais Com um nível de EC de aproximadamente 4 ou menos, a salinidade do solo pode ser estabilizada cultivando lavouras para fins comerciais adaptadas a salinidade moderada. “As lavouras mais tolerantes a sal são cevada, camelina, centeio, açafrão, girassol e beterraba”, diz Aberle. “Substituímos muitas delas por lavouras menos tolerantes, como feijão, soja, milho e ervilha.” 2 – Coberturas tolerantes Aberle avaliou 35 espécies de cultivos de cobertura em áreas com ECs de 6,5 ou menos. Ele semeou as lavouras de cobertura em junho e julho, pois a alta umidade do solo americano nesse período recuava o suficiente para permitir equipamentos em áreas salinas. As espécies de cobertura com custos razoáveis das sementes e que tiveram o melhor desempenho foram colza, cevada, centeio, milheto siberiano e sorgo com capim sudão. “Ao plantar lavouras de cobertura, consegui manter a EC do solo, mas a salinidade não melhorou”, conta o pesquisador. “A única maneira em que pude diminuir o EC foi cultivando gramínea e alfafa.” 3 – As piores áreas salinas “Quando a EC está acima de 6,5 ou 7, considere cultivar alfafa e gramíneas perenes nessas áreas”, diz Aberle. “Essas plantas toleram níveis mais altos de salinidade.” O cultivo de alfafa é muito comum nos Estados Unidos. Doze variedades de alfafa foram incluídas na pesquisa, sendo que 11 delas eram tolerantes ao sal. “As variedades tolerantes têm melhor germinação em condições salinas, mas os custos das sementes são significativamente maiores”, conta Aberle. Nos Estados Unidos, para recuperar solos altamente salinos, o pesquisador sugere cultivar alfafa tolerante ao sal acima da borda da área branca em uma faixa de 12 a 18 metros de largura. A pesquisa também investigou variedades de gramíneas perenes. Elas tendem a penetrar nas áreas mais profundas de infiltração nos solos salinos. De acordo com o estudo americano, após seis anos de cultivo de gramíneas perenes tolerantes a sal, as áreas salinas mostraram melhora na EC do solo, com os níveis caindo de 7 a 10 para 4 a 8. A recuperação total do solo salino é um processo de longo prazo. “Alguns solos levaram décadas para se tornar excessivamente salinos”, afirma Aberle. “Então serão necessários muitos anos para restaurar o solo para o seu estado mais natural.” * Essa foi a reportagem de capa publicada na terceira edição da revista Farming Brasil.
Artigo original do site SF Agro | Farming Brasil: https://sfagro.uol.com.br/nova-vida-para-o-solo-salino/
15
maio
2018